Megatendências globais definem agenda da indústria mineral

Entre os US$ 68,4 bilhões de investimentos previstos no Brasil entre 2025 e 2029, projetos vinculados a minério de ferro são 28,7% e os socioambientais 16,6%

Megatendências globais definem agenda da indústria mineral
Por Carmen Nery — Para o Valor, do Rio

11/11/2025 

 

As megatendências globais têm pautado os rumos da oferta, da demanda e dos investimentos do setor de mineração. O mantra tem sido segurança alimentar, descarbonização e transição energética, em que minerais como lítio, cobre, níquel,cobalto e minério de ferro verde têm papel fundamental. Dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) apontam que, do total de US$ 68,4 bilhões de investimentos previstos no Brasil entre 2025 e 2029, os projetos socioambientais ocupam a segunda posição,com 16,6%, só atrás dos vinculados a minério de ferro (28,7%).

José Luís Gordon, diretor de desenvolvimento produtivo, inovação e comércio exterior do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), informa que o banco tem buscado estimular a cadeia de minerais estratégicos. O BNDES recebeu 124propostas e selecionou 56, somando R$ 45,8 bilhões, na chamada pública feita junto com a Finep para apoiar planos de negócios visando à ampliação da capacidade produtiva e de pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&DI).

Com a Vale, o BNDES criou, em 2024, o Fundo de Investimento em Participações (FIP)de Minerais Estratégicos, com R$ 1 bilhão para aporte em cerca de 20 empresas juniores e de médio porte que atuem em pesquisa com foco em minerais estratégicos para a transição energética (cobalto, cobre, lítio e níquel) e a segurança alimentar (fosfato e potássio). A BNDESPAR e a
Vale subscreverão cotas de R$ 100 milhões até R$ 250milhões.

Rafael Marchi, sócio-diretor da A&M Infra, diz que a mineração vive um momento peculiar. De um lado, há os projetos de minério de ferro das grandes ventures, como Vale, Anglo, BHP, Samarco; e do segundo nível, formado por Brazil Iron, Cedro, Bamin, Herculano, Minerita etc. De outro, há projetos de ouro e da categoria de minerais críticos para transição energética e para fertilizantes. “Em terras raras, há projetos de Meteoric, Aclara, Serra Verde, Brazilian Rare Earths. Em lítio, há investimentos de Sigma, CBL, Latin Resources, Atlas Lithium e outros que estão no pipeline para sair. Do ponto de vista geopolítico, há uma corrida em busca dos minerais do Brasil, que é um país neutro”, completa Marchi.

Entre os empreendimentos greenfield (novo), o Projeto Ferro Verde, da Brazil Iron, inclui três minas de minério de ferro a céu aberto, ramal ferroviário de 120 quilômetros e três plantas industriais para produção de pellet feed (minério de alto teor de ferro), pelotização e HBI (ferro briquetado a quente) no Porto Sul (BA) com utilização de hidrogênio verde. “A McKinsey projeta um déficit de 109 milhões de toneladas de ferro verde em 2031. Nossas obras começam em 2026 e a operação, em 2030. Os dez primeiros anos de produção já estão negociados com clientes da Europa e da Ásia”, diz Emerson Souza, vice-presidente de relações institucionais da Brazil Iron.

A Vale prevê que 10% de sua produção total de minério de ferro seja composta por produtos de mineração circular. Carlos Medeiros, vice-presidente de operações, destaca o Programa Novo Carajás (PA), com investimentos de R$ 70 bilhões, e uma nova fase de investimentos em Minas Gerais, de R$ 67 bilhões, ambos com previsão de execução até 2030.
A mina Capanema (MG) foi reativada, com investimentos de R$ 5,2 bilhões, em setembro, adicionando 15 milhões de toneladas por ano à produção de minério de ferro da Vale. No Pará, com o Novo Carajás, a produção de minério de ferro chegará a um ritmo de 200 milhões de toneladas por ano em 2030, a partir do adicional de 20 Mt na mina de Serra Su). No caso do cobre, projeta-se um crescimento de 32%, para cerca de 350 mil toneladas. Na frente de metais para transição energética, a Vale Metais Básicos iniciou em setembro a operação do segundo forno de processamento de níquel no Complexo Mineral Onça Puma, no sudeste do Pará.

A CSN Mineração está investindo R$ 13,2 bilhões, até 2030, em infraestrutura logística, economia circular e no Projeto P15, que visa a produzir, na mina Casa de Pedra em Congonhas (MG), 16,5 milhões de toneladas/ano de pellet feed para viabilizar aço mais verde. “É um insumo fundamental para a descarbonização da siderurgia global. O início da operação será no quarto trimestre de 2027”, diz Pedro Oliva, diretor financeiro e de relações com investidores.

Outros projetos brownfield (já existentes) têm recebido investimentos de novos operadores. Os grupos Mubadala e Trafigura fizeram o licenciamento de um novo projeto da mina Mineração Morro do Ipê (MMI), na região de Serra Azul (MG) adquirida da MMX Sudeste. A MMI investiu R$ 1,3 bilhão para a produção de 6 milhões de toneladas por ano de “minério verde” (pellet feed), de maior teor de ferro.

A Atlantic Nickel, do fundo britânico Appian Capital Advisor, terá inicialmente investimentos de US$ 50 milhões na mina de níquel Santa Rita, em Itagibá (BA). Os recursos vêm do fundo de US$ 1 bilhão criado pela Appian e pela IFC, braço de investimento privado do Banco Mundial. “A Appian está investindo R$ 100 milhões em um estudo de viabilidade do projeto subterrâneo da mina Santa Rita. Com a confirmação do estudo, serão investidos R$ 3 bilhões para o desenvolvimento da mina subterrânea entre 2026 e 2030”, diz Milson Mundim, country manager da Appian Capital Brazil.

A Sigma Lithium está investindo US$ 100 milhões, com financiamento de R$ 486,8 milhões do BNDES, para ampliar a capacidade produtiva com a construção de uma segunda fábrica Greentech de transformação do minério em óxido de lítio. “A conclusão é até o final de 2026, o que dobrará nossa capacidade industrial anual de 40,000 t de LCE [lítio carbonato equivalente], cerca de 3% do mercado mundial, para 80,000 t de LCE, apenas para acompanhar o crescimento em ascensão da demanda de lítio, que atingiu 22% esse ano”, diz Ana Cabral, CEO e cofundadora da Sigma.

Fonte da publicação: Megatendências globais definem agenda da indústria mineral | Mineração | Valor Econômico